Coisas que aprendo no Caminho fala de lições do dia a dia. Ensinamentos do Mestre,aprendizados, sonhos, situações e momentos que fazem parte da minha vida. Uma caminhada de reflexão e compartilhamento, onde espero dividir as Coisas que Aprendo no Caminho. (Pr. Welington Alves)







quarta-feira, 4 de julho de 2012

Número de divórcios no Brasil é recorde e problema atinge a Igreja



“O que Deus uniu o homem jamais separe!”. Ao que parece, essa sentença nunca esteve tão ameaçada quanto nos dias de hoje. O casamento, como instituição sagrada, imutável e indissolúvel, vem perdendo prestígio por conta de um conjunto cada vez maior de circunstâncias.

No Brasil, o fim da exigência de prazos para dissolução legal dos casamentos fez com que a taxa geral de divórcios atingisse, em 2010, o seu maior patamar desde 1984, quando foi iniciada a série histórica das Estatísticas do Registro Civil, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingindo 1,8 por mil habitantes entre pessoas de 20 anos ou mais. Ainda de acordo com o Instituto, entre 1990 e 2007, ou seja, em apenas 23 anos, a taxa de divórcio cresceu 200%.

Embora não haja nenhuma pesquisa específica que aponte os números de separações entre evangélicos, é possível supor que o problema atinja também esse segmento da sociedade em proporções inéditas. Basta que o leitor observe sua própria congregação. Dificilmente não haverá casamentos desfeitos em sua igreja. Mas, quais são os fatores causadores desta situação, que afeta em cheio as famílias brasileiras? O que diz a Bíblia sobre o divórcio? Como agem as organizações evangélicas destinadas a ajudar os casais em crise?

Segundo especialistas em terapia de casal ouvidos pela reportagem da revista Comunhão, os problemas que mais afligem a vida a dois – mesmo a dos casais evangélicos – são aqueles relacionados a dificuldades financeiras, relacionamentos conflituosos com a família de origem, vida sexual, saúde debilitada e decepções. Falta de diálogo e infidelidade conjugal também são reclamações constantes. Por esse prisma, a tecnologia vem contribuindo em muito com o aumento do número de divórcios no mundo, seja afastando os casais de uma convivência real em favor do mundo virtual, seja abrindo oportunidades perigosas ou angariando provas da infidelidade do homem ou da mulher.

A proliferação de câmeras digitais e smartphones, aliada à popularização das redes sociais, fazem com que os cônjuges infiéis tenham mais dificuldade em escapar incólumes, tendo um papel cada vez maior nas separações de casais, segundo advogados especializados em divórcios. Embora não se consiga medir com exatidão a relação entre essas ferramentas e o fim das relações, a Associação de Advogados Matrimoniais dos EUA estima que as publicações no Facebook já correspondam a 20% das provas apresentadas por cônjuges do país na hora da separação, de acordo com pesquisa divulgada neste mês de março.

O pastor Cláudio Almeida dos Santos, que há três anos vem realizando encontros para casais em sua igreja, a Assembléia de Deus Missão Shekinah, em Vila Velha (ES), aponta outro fator que causa graves problemas nos relacionamentos de hoje: as expectativas irreais que um tem sobre o outro. “Ou seja, as pessoas esperam do seu cônjuge aquilo que ele não pode dar e, com o passar do tempo, começam a achar que fizeram a escolha errada, ou mesmo que não estavam preparados para assumir um compromisso tão sério”, explica o pastor.

Curiosamente, o próprio Cláudio quase terminou seu casamento anos atrás, devido a outro grave problema social: “Sou alcoólatra. Estou liberto desse vício desde que me converti. Mas, na época, minha esposa, Sonia, inúmeras vezes pensou em sair de casa. Nunca nos agredimos fisicamente, mas com palavras eu a fiz sofrer muitas vezes. Eu dormi muitas vezes na rua, sem condições de chegar em casa”, revela.

A tragédia causada pelo alcoolismo só foi evitada porque Cláudio se converteu ao Evangelho. Mas, conta ele, uma mudança profunda no relacionamento com a esposa levou mais tempo e outro tipo de “processo interno”. Cláudio relata que levou mais de 20 anos para encontrar a verdadeira harmonia no casamento: “Estamos casados há 28 anos, mas sempre vivemos uma vida de muitos conflitos. Cheguei a pensar em me separar, a abandonar tudo, mas o temor a Deus, e o medo de voltar à vida que eu tinha antes de me converter, me fizeram procurar ajuda. Somente há cerca de quatro anos conseguimos resolver nossos problemas, graças a muita terapia e orações. Tem de ter esperança e paciência para vencer essa batalha”. O pastor conta que, a partir de sua própria experiência, iniciou seu ministério com casais baseado na seguinte premissa: “O que Deus uniu, o homem, os parentes, a vida financeira, a saúde…nada pode separar!”

Separar ou não, eis a questão…

Há vários textos bíblicos que apoiam os argumentos daqueles que defendem a tese de que o casamento é indissolúvel. Em Mateus 19, o próprio Jesus responde às perguntas dos fariseus acerca do divórcio: “E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos, saiu da Galiléia, e dirigiu-se aos confins da Judéia, além do Jordão; E seguiram-no grandes multidões, e curou-as ali. Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta ao povo de Corinto, também fala sobre o tema de forma inflexível, no capítulo sete: “Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher. Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos. Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”.

O texto é claro, mas não resolve o problema de quem sofre dia a dia com uma convivência difícil. Em grande parte, quando se chega a esse ponto, já não há mais amor entre os cônjuges. Então, a solução seria viver uma vida acorrentado à tristeza, abrindo mão assim da possibilidade de uma vida supostamente mais feliz? Diretor e conferencista do Oikos, ministério cristão de apoio à família, Gilson Bifano diz que a argumentação de que o amor acabou e, em consequência, não há por que lutar para reatar o casamento, não condiz com a realidade do problema.

“O amor acaba porque os casais não o alimentam. Amar é uma decisão. Todos os dias deve haver disposição de amar o cônjuge. O abandono do casamento não é da vontade de Deus, especialmente para os casais cristãos. Eu diria que os casais com dificuldades deveriam lutar pelo casamento, procurar ajuda através de um aconselhamento, ou uma terapia. Se os casais lutarem por seus casamentos, teremos, com certeza, menos divórcios” diz ele, de forma simples.

Com a mesma esperança na restauração, por vezes milagrosa, o pastor Narciso Marques, coordenador do ministério Casados Para Sempre, da Igreja Batista de Lagoinha, em Belo Horizonte (MG), diz que receberá aproximadamente 200 casais, divididos em 33 grupos, apenas no primeiro semestre deste ano. O ministério tem diversos programas para o fortalecimento da vida a dois daqueles que querem prevenir uma crise ou mesmo para aqueles que já vivem uma realidade dolorosa. Há encontros, acampamentos de casais e oportunidades para aconselhamento individual e, até mesmo um curso de finanças para a família – área que costuma gerar muitos conflitos.

“Recebemos casais com todo tipo de problemas, não dá nem para descrever. São coisas inusitadas até, desde casos em que o casal não consegue tirar o filho já crescido da cama deles até os que se separaram devido aos filhos terem graves problemas com drogas. Há aqueles que já estão com aos papéis do divórcio em andamento. Mas, não importa a situação, se houver o interesse e empenho dos dois, a coisa é reversível, por mais caótica que seja aos olhos do homem. Deus age. É isso que nos diferencia de outros grupos de apoio não crentes. Nós, evangélicos, contamos com a intervenção divina!”.

Já o pastor Julio César de Araújo, um dos líderes do ministério Casados Para Sempre criado pela Igreja Evangélica Congregacional do Brasil, destaca, do alto de seus 11 anos de experiência no treinamento de casais e de conselheiros matrimoniais, a preocupação com os efeitos sobre a família que, ele afirma, pode ser afetada de uma forma muito traumática: “Quando há a quebra de aliança com Deus e, por consequência, a separação do casal, vai haver uma série de transtornos na família, seja pela ausência da figura do pai ou da mãe, principalmente quando as crianças são pequenas, na primeira infância. Isso afeta demais o lado emocional e o espiritual das crianças. Tem gente que diz que, após se divorciar, a convivência com os filhos melhorou, mas isso não existe, é balela. Filhos de pais separados têm dificuldades que, por vezes, se manifestam por toda vida”, diz.

O pastor Julio vê com bons olhos o aumento do número de casais que estão optando pela guarda compartilhada – conforme levantamento do IBGE o número de casais que concordou em ter a guarda compartilhada de seus filhos (menores de idade) subiu de 2,7%, em 2000, para 5,5% em 2010 – mas diz que a medida não soluciona o problema: “É claro que ela diminui o trauma da separação, que minimiza os danos emocionais da ruptura familiar, mas isso não pode ser visto como uma solução definitiva. A solução é amparar as famílias para que elas não se dissolvam”, alerta o pastor.

Fonte: Revista Comunhão

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